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Mostrando postagens de dezembro, 2013
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Dois poemas sonoros de Ters Ters pode ser encontrado no site www.amazon.com.br .   (Clique aqui!) Incluí em meu livro Ters   (Terra) dois poemas complexos, cujos títulos são Deserto e Poema  (simplesmente), de construção densa, mas emocional, um tanto amargos, reconheço.  Bela costuma insinuar que são poemas para poetas , o que significa dizer que são difíceis de ler (para as pessoas normais, que não erguem todo dia seus altares à falsa sacralidade da literatura).  Mas gosto dos poemas, me satisfazem como arquitetura de escrita, como elementos de sonoridade.  Ei-los: Desertos Eras todo o deserto, espaço nu e corroído, o dia ardendo sua sapiência, sol que despistava em chama e raio sua geleira e inverno. Eras sobretudo a falsa mão, a que não pôde permitir-se o toque, o alívio, o canto solto e alegre nas campinas nuas; a que riscou no avesso de manhãs não claras o curso da derrota. E te disseram bruma, incerteza, vulto que se agigantava nos confins, de espada em
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Sérgio Ferreira e as cores da intuição     Sérgio Ferreira em seu ateliê: um operário da arte Um artista não arrogante, intuitivo, que vive da arte. E não se trata de uma arte qualquer, mas de uma produção consistente, resultado da mescla de materiais, “alterados” ou “afetados” por ele, na estudada manipulação dos elementos, no desenvolvimento de técnicas, valendo-se de conceitos híbridos. Além disso, uma arte múltipla a que ele faz (pintura, escultura, mobiliário), mas não pedante, avessa a modismos, próxima, sim, de ser decorativa, só que em nenhuma hipótese banal. Enfim, “arte sincera”, como ele mesmo diz, feita por um artista real, um operário das tintas, no esforço de bem conceber o produto de seu ofício. Sérgio Ferreira é das Minas Gerais. Aos 53 anos, vive hoje em Montes Claros, creio, numa ampla casa onde dedica o seu dia a dia – dos primeiros raios da manhã até o anoitecer – a criar telas, esculturas, móveis (que são muito mais esculturas), e quase não lhe sobra tem
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O bom-gostismo é uma m#Rd@ Por Marina Marta A morte do cantor-compositor Reginaldo Rossi – e a boa referência que o pensamento intelectual de esquerda e de direita resolveu finalmente manifestar sobre ele, sempre com ressalvas – me fez recuperar no baú de coisas esquecidas este texto de um de meus pseudônimos, a iconoclasta Marina Marta, que escrevia artigos imponderáveis sobre literatura, música e artes plásticas no século passado (rsrsrs), para páginas do caderno de Cultura do jornal O Liberal , o veículo impresso de maior circulação na Amazônia (até hoje). Durante algum tempo, mesmo na Redação do jornal, muita gente achou que era realmente uma mulher louca que escrevia, às vezes de modo "desbocado" (tanto quanto possível para aqueles idos), aqueles apanhados de opiniões críticas um tanto conflitantes com as do  establishment  cultural da época. Agnaldo Rayol e Erika Rodrigues no Programa do Jô: uma voz especial para um repertório nem tanto Uma tarde morna
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Mensagem Eu sempre acreditei em Papai Noel.  Mas para mim ele não é um velhinho de barbas brancas em uma roupa quase de dormir vermelho-fogo. Ele sempre foi uma presença espiritual, um estado de ânimo confortável, sereno e com sabor de maresia que nos alcança em certas épocas do ano, em determinado tempo, em algum momento em que a vida, às vezes por um breve instante, nos presenteia com aquilo a que chamamos FELICIDADE . Eu que sempre fui de certo modo triste – porque não suporto o mundo como ele nos é, não admito a injustiça, não aceito o que a vida tem sido de miséria e morte para mais da metade dos humanos do planeta – fico a pensar que a felicidade é um intercurso entre uma dor e outra, entre um quase nada e outro, apenas possível quando estamos dispostos ao AMOR , este irmão da PAZ , amigo da ALEGRIA , aliado da SABEDORIA , primo da HUMANIDADE . A você, que esteve a meu lado, que de uma ou de outra forma colaborou com o mundo, que fez algum bem aos outros – ou simplesmente
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O velho tigre Jorge Luis Borges O escritor argentino Jorge Luis Borges deixou uma obra incomparável em língua espanhola, pela capacidade inventiva e pelo poder das metáforas, mas dizer isso é algo como chover no molhado. Borges é o arquiteto de uma obra dominantemente ficcional, condensada no plano das invenções e das realidades construídas somente desse vapor e pó de traque (que no entanto é quase concreto armado) que se chama poesia . Viajante Nos seus últimos anos, Borges viajou incansavelmente pelo mundo com a esposa, Maria Kodama, sua ex-aluna e secretária particular.  Passava no máximo dois ou três dias em cada lugar, sem dar muita importância à cegueira ou à velhice; a pele cada vez mais manchada, daquelas manchas que não se sabe se são apenas um truque  ou sinais de acúmulo de vida. Porque ele era um ser tirante a homem que já se transformava em tigre. Mas houve um tempo de tamanha angústia em que ansiou pela morte. E com tal intensidade que chegou
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Michael Jackson:  Black or White? Nem branco nem preto. Michael Jackson foi um ser humano cujo corpo seguiu  um destino artificial.  As últimas notícias do astro após sua morte revelaram um artista fragilizado e doente, quase cego, sob forte pressão emocional e profissional, sentindo dores físicas insuportáveis. O poeta e ex-titã ­Arnaldo Antunes trocou ­certa vez, há exatos 20 anos, dezenas de farpas com o jornalista Sérgio Sá Leitão, da Folha de S.Paulo , acerca da controvertida figura do pop-star Michael Jackson, cujo disco ­ Dangerous acabava de ser lançado  (1991), após veiculação internacional do polêmico clip ­“Black or White”. Sá Leitão e Arnaldo retornavam à velha discussão “branco ou ­preto” a que inevitavelmente chegava ­quase todo debate em torno da figura de Jackson depois que o cantor-compositor decidiu fazer sucessivas operações plásticas e um tratamento para clarear a pele, transformando-se numa espécie de homem de cera ou híbrido mutante de car
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Athos Bulcão: gênio da cor –  II “Ele foi talvez o maior artista da história da arte brasileira, o mais generoso e o mais social. Sua arte era feita para a população, não era presa às salas, aos museus. Era para quem passava pela rua, mesmo as pessoas distraídas, que não percebiam que aquilo era arte. E são trabalhos lindos. Estou triste porque tinha uma relação longa com ele, desde os meus 7 anos, quando cheguei em Brasília. Éramos vizinhos. Guardo essa preciosidade comigo.”  ( Ana Miranda , escritora ) O painel externo do Teatro Nacional, em Brasília, é a obra de Athos Bulcão de maior destaque e reconhecimento. Sempre citada por críticos e historiadores, é para muitos o mais bem-acabado exemplo de fusão do pensamento arquitetônico com o artístico. “A parede do Teatro Nacional é o marco da nossa história, é nossa grande pirâmide. Se penso num painel de arte no Brasil, a primeira coisa que me vem à cabeça é aquilo. É genial. E muita gente nem sabe que é do Athos. Está
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Athos Bulcão: gênio da cor – I Um gênio da cor e do design consagrou seu talento e energia a construir um dos maiores monumentos da arte brasileira de padronagens. Sua obra inigualável, espalhada pelos mais variados espaços, ambientes e construções da Capital Federal, sofre com o descaso e a depredação que só cegueira e ignorância conseguem justificar. Athos Bulcão nasceu no Rio de Janeiro, no bairro do Catete, no dia 2 de julho de 1918. Faleceu aos 90 anos em Brasília, a 31 de julho de 2008, de parada respiratória, no hospital Sarah Kubitschek, após uma luta intensa contra o Mal de Parkinson. “O tratamento me exaure. Às vezes, durante as crises, esqueço dias inteiros”, dizia ele. Era filho de Fortunato Bulcão e Maria Antonieta da Fonseca Bulcão. O nome Athos homenageia o personagem de mesmo nome do famoso romance de capa e espada Os três mosqueteiros , de Alexandre Dumas. O jovem Athos que fazia rabiscos e garatujas que não despertavam a atenção de ninguém foi levado à ar
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Ademir Braz – um poeta da Amazônia Ademir Braz possui a biografia de um intelectual de cidade do interior, inóspita, entrecortada de rios, décadas atrás perigosíssima. De lá, ele não se afasta para se fixar em outras plagas nem amarrado. Isso faz sentido para a semântica de sua criação, impregnada de uma certa melancolia, uma tal desesperança quase profunda, mas que paradoxalmente aspira a ser feliz; uma identidade índia que não se aparta da natureza, de seus rios, pássaros e mitos, da terra ainda espoliada. Ele é uma voz poética amazônida rara e autêntica. Conheci-o há 30 anos, numa viagem ao Sul do Pará. Mas meu contato se deu primeiramente com a poesia desse marabaense, algo por acaso. Numa certa manhã de calor asfixiante em Belém, ainda adolescente, vi Branca chegar da editora trazendo nos braços algumas sobras de papel e exemplares defeituosos de livros que estavam sendo impressos. Por curiosidade, fui abrindo os livros um a um: um certo O canto do acauã , sobre o can