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Mostrando postagens de julho, 2013
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Primeiro capítulo de O despertar de Fênix Há alguns anos, um amigo editor me provocou a escrever ficção científica. No início, achei a proposta sem sentido, porque o meu texto à época era essencialmente poesia. Mas depois de concluir o romance "A noite dos casacos vermelhos", passei a achar interessante a ideia. Guardo há algum tempo os primeiros resultados dessa experiência entre meus escritos. Decidi retomá-la agora, no meio de uma enlouquecida produção, em que minhas noites estão cada vez mais curtas e o sono é raro. Penso em publicar aqui a sequencia de capítulos, um a cada semana, talvez. Capítulo 1 No ano de 2030, um grupo de cientistas canadenses descobriu um composto gasoso capaz de deter a degeneração dos corpos. Era uma forma de criogenia avançada com a qual se conseguia obter resultados surpreendentes no congelamento – e reavivamento – de rãs, répteis e, finalmente, pequenos mamíferos de laboratório. Aquele fora um dos momentos em que certamente a mão d
O que dizer num mundo em silêncio Toda escrita pressupõe uma “leitura” anterior. E será tanto mais rico o texto quanto mais eficientemente o indivíduo interpretou as coisas que leu ao longo da vida. Vale advertir que aquilo que se lê não são apenas as palavras numa página de livro ou numa tela de computador: o mundo todo pode ser “lido”, as coisas em volta podem ser lidas, até uma pedra pode ser lida, embora num primeiro momento essa afirmação possa parecer um tanto despropositada. Tudo fala: um gesto, uma carícia, um aceno, um aro de bicicleta, um adesivo no armário, um sofá na sala. Cada coisa é a expressão de uma subjetividade, cada objeto denuncia uma escolha, feita por um sujeito pensante e sensível – e possui uma história. A percepção de que as mínimas coisas do mundo, observadas e tocadas pelo homem, falam , equivale a descobrir que na maior parte de nosso tempo vemos sem ver , ouvimos sem ouvir . Sem ver, sem ouvir: um problema para a concepção do texto Ao longo de s
Um conto de Valsa para Edgar Furioso Há dez anos, escrevi um livro de contos às pressas, "Valsa para Edgar Furioso". Precisava testar uma impressora digital para fabricação de livros e resolvi fazer isso com meu trabalho em preparação, uns 50 exemplares somente. A capa ficou uma tragédia e os contos ainda eram provisórios, de certa forma inacabados. Agora estou a concluí-los e ao que parece teremos uma bela edição. Eis aqui um dos contos dessa nova ópera.   Canção para ninar Ângela Encontrei a estrofe num folhetim de bordas roídas e páginas amareladas. Volta-me a lembrança o odor ácido de edições empilhadas ao relento. Em qual biblioteca, em que porão? Do autor, não sei o nome. Ficou-me apenas a sonoridade de concha abandonada dos ­versos, a ressonância de pólvora e bacamarte das palavras que me atiraram sopros de sal na memória: Não trago mais que a tristeza de ter ferido ferido meu mais íntimo reduto em que meu Deus – santo e urso – habitava, já não h
Um poema de meu livro "Ters" (Terra), apropriado para noites insones Ouvi de uma amiga (parece loucura, mas é real) que em sua longínqua casa de praia, em noites estreladas, sempre esperava que das esferas cósmicas e transcendentais surgisse de repente um anjo.  O anjo Em silêncio ajardinei alguns cantos da casa, perfumei cortinas e esperei chegar aquele anjo (pacientemente, porque anjos não se apressam). Sentado a uma cadeira de balanço, rodeado de livros antigos, ouvi por três dias e três noites as cigarras em frenesi dançarem na varanda. Cometas colidiram na minha janela. Estrelas cadentes perderam-se no mar. Um pássaro suicidou-se em voo livre, da sacada... Então Ele chegou. E não havia luzes em seus olhos, não havia asas nem espadas de fogo nem sonidos... Só o que Ele fez foi jogar cartas comigo.
Minhas garras azuis de adamantium Venho produzindo três livros ao mesmo tempo (um romance, uma peça e um livro de poemas).  Faço isso por absoluta incompetência, apenas porque volta e meia travo em algum desses escritos e não saio do lugar. Daí que preciso passar a um outro "ato" de criação, diferente do anterior (a um outro texto, para ser mais preciso), para "destravar". Um deles é uma espécie de meio de campo nesse processo: a peça "Minhas garras azuis de adamantium", que estou escrevendo para uma atriz adorável, a Raiane, que trabalha no TSE. É um trabalho ainda em experimentação, mas apresento aqui uma pequena parte dele, com o início do Primeiro Ato, o diálogo entre A voz e Serena : Personagens A Voz (É somente a voz, uma voz reproduzida a partir de gravações em MP3. Dialoga com Serena e O Bardo ao longo de toda a peça) Serena (Personagem principal. Apresenta-se o tempo todo em roupa escura, futurista, de cor única (metálica), mas dif