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Mostrando postagens de 2015
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As quatro estações Poemas concebidos para um espetáculo de música flamenca  Verão A hora é a hora Em que se faz (agora) A mágica candente Dos teus pés de lince Nos passos dessa dança Volumosa e áspera. És um sol que explode E que penetra ardente Uns braços que se expandem Num balé de raios... Vai... A vida é bela Nos teus pés de fogo Laços de vertigem, Neste dia longo (O mais longo da vida), Nos passos dessa dança Feita de suor e flores... É VERÃO? Amores? Primavera Borboleta, é claro, É uma flor que gira Entre flores raras Numa dança breve, Leve como a pluma. Deixa um pouco o laço Ficar só mais um pouco Nesse pouso de ave Sobre mãos suaves Que alcançam a face Da louca bailarina. Mais parece estrela, Essa menina rara Que sorri, brincando, Toda PRIMAVERA! Outono O teu corpo gira Em torno de si mesmo Leve folha a esmo Levada pelo vento. Mais que folha: é pluma De mulher que esfuma A dor dos pensamentos Em círculos de dança. Num ritual flamenco. Pés que se desfazem E se p

Sugestão e música

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Um eBook de Enigma Blues , livro de poemas Para ler, clique aqui >  "Enigma Blues" (eBook gerado no sistema Trakto) Criei um eBook de meu segundo livro com uma nova ferramenta da web. Creio que é uma das maneiras mais eficientes de divulgar poesia (sobretudo essa poesia aí, hermética). A sua primeira edição foi lançada há 27 anos. Seu título era então "Ércia e os Elfos", e sua escrita “automática” marcou profundamente o modo como passei a encarar o ato de escrever.  Minha experiência com o desenho a nankim e sua diluição em água (aguada), para chegar aos tons translúcidos a partir do negro puro e intenso, naqueles idos, já me remetia à tentativa de alcançar uma forma, digamos, surrealista de reconstrução do mundo pela arte. Isso eu transferi para a poesia de minha juventude. Escrevo de maneira bastante distinta hoje, mas ainda gosto dela, ainda me surpreende. Sei que ela é difícil porque pretendia ser muito mais sugestão e música que poema. O livr

Trecho de "A Carta"

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A noite dos casacos vermelhos "Esperava-me naquele abismo de trevas a Indistinta, a que arrebata bons e maus.  E aguardei que dissesses “faça-se a luz”, mas a luz não se fez. E fiquei sozinho e tive de enfrentá-la. Ela esteve muito próxima... e o cheiro que exalava era o de flores mortas, murchas como ela. Esteve a poucos metros de mim e se ­aproximava cada vez mais. Vi os cabelos ralos e lisos dela, os olhos dela, cujo brilho maior era refletirem um negrume profundo, uma escuridão vasta de tão densa.  E a chamavam Morte . Tive medo da treva infernal que vi orbitar ­naqueles olhos que traziam à tona o fundo do oceano. E pensei: É dessa maneira que ela devora os homens, atravessa a imensidão dos tempos e vence os espaços interplanetários. Fechei os olhos e pedi clemência.  Quando os abri, não a vi mais.  Esfumara-se. Partira? Então acordei: estava à margem dum braço qualquer do pântano. Cheguei àquele lugar distante talvez arrastado pelas águas. Sangrava muito, um

A que hoje amo só pode ser aquela que está comigo

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Agora A vida não é linear nem simples. Se alguém disser o contrário, está mentindo, mesmo que não saiba.  Isto é possível? Oh, mas é claro. Estamos todos nós, o tempo todo, achando que a vida segue em linha reta; e caso haja curvas, que elas serão previsíveis e até suaves.  Nada mais falso: a vida é uma explosão. Mas pode ser também um sopro de vento.  É isso o que eu queria dizer e não atino, porque também não inteiramente verdadeiro: a vida pode ser uma coisa e outra. Quase nunca será uma coisa ou outra. No entanto a queremos pão pão, queijo queijo.  Temos a ilusão de que a domesticamos nesse ir e vir a que chamamos cotidiano – ou que a subverteremos completamente advogando para nós o que convencionamos chamar de nossa liberdade . Nenhum ser humano é livre a não ser dentro de si mesmo. Tudo o que está fora é para além de mim , portanto longe demais do eu ser livre . Cogitamos que vida material e conforto nos resumem como potencialmente felizes. E esquecemos que felic

Maior que o corpo

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Iluminação Ele havia consumido metade da vida a lutar por um mundo melhor. E o melhor era que todas as pessoas tivessem teto, leite e pão, a mesa posta, ainda que sem fartura, o calor dos amigos, a caminhada simples pelos arredores entre árvores preservadas, uma boa camisa, um pássaro, um cão.  Parecia pouco, mas suficiente. E a felicidade decorreria de termos sido assim humildes diante das outras espécies da Terra, a aceitar o mínimo; a lutar tão somente pelo necessário; a usufruir apenas o que fosse possível. Ao contrário disso, a humanidade seguiu seu curso a querer em demasia. A salutar ambição cedeu lugar à ganância; o cérebro humano prosseguiu em sua tentativa de ser máquina. Até o coração teve de pesar cada vez menos, com suas canaletas de plástico a bombear chocolate e açúcar para as restantes engrenagens do corpo. Dessecado pelas coisas que via se descortinarem sem sentido, ele pensava que o destino humano talvez fosse o de chegar à condição de sermos uns bonecos qu

Sobre a Terra

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Lua sangrenta Marcilla me disse que o amor morre. E Nacillo falou que ela estava certa. Ora, há sentimentos assim que começam como um rastro de fogo na campina. É tão intenso o que sai do chão em labaredas que nos sufoca se permanecemos sem sair do lugar, se o coração fica parado e os gestos não se iniciam no sentido da acolhida. Depois é como se um vento de ressaca nos assaltasse de repente. Sobre o cálido das cinzas que vão aos poucos se formando em toda a extensão do prado, uma brisa perpassa devagar o caminho até a casa onde ficamos, que nos acolheu depois de tantos anos, que deixou ficar sobre nós o seu teto de palha e folha. Os dias hoje são sombrios e a casa respira o pó dos que se foram, como um corpo que inspira de cansaço e dá sinais de que desiste. Tanto eu queria... não que fosse como antes, porque o que se foi é um ido inalterável até as esferas que já nem sabemos. Queria, isto sim, o riso despertado pelo agora em que sobejam as coisas que sofremos; o carinho de aqui
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Sereia de fogo dos lagos de pedras verdes Imagem: Luiz Braga (PostFace) Eu não estaria assim, se não fosse o fato de ter dormido tarde, o dia amanhecer nublado e o sol não existir quase infantil a estas horas no parapeito das janelas.  Quando isso acontece, espreguiço-me na cama sem esperança e vejo pela janela sem cortinas que as nuvens vagam um silêncio morno por todo o espaço, com seu peso de vapor de chumbo e a agonia dum louco que arrastasse gritos pela casa.  O mundo lá fora, assim, nunca é além do frio/calor que nos percorre por dentro as veias, rio fininho de água e óleo, leite e amoras. E há o desespero de não ter feito tudo quanto durante tantos anos, de espedaçar-se pelo meio do caminho, de ter de ouvir a voz desagradável da insidiosa que se senta ao meu lado e quer o teu mal a todo custo. Passou a existir entre nós essa ponte intransponível que vai do ontem ao vento, do agora ao abismo.  Por isso estamos sós.  Ouvimos que são de sinos os sons que dobram na

A Base Fênix em Bas Saint-Laurent

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Poeira de estrelas A partir do dia 29 deste mês (terça-feira), por um período de sete dias, a Amazon colocará em promoção o romance "O despertar de Fênix", minha primeira experiência com a ficção científica. Sempre alimentei um grande fascínio pela astronomia e pelos mistérios interplanetários; a imensidão do Cosmos até hoje desvia a minha percepção da estreiteza deste parco mundo humano e seus dilemas e me joga na cara que nada mais somos que poeira de estrelas. "O despertar de Fênix", resultado dessa reflexão, está desde seu lançamento entre os eBooks mais vendidos em sua categoria na Amazon. Se você gosta desse gênero, aproveite essa oportunidade. TRECHO "Em menos de um ano estavam concluídos os laboratórios da Base Fênix em Bas Saint-Laurent. Foi nesse lugar paradisíaco que eu e mais 21 pessoas, homens e mulheres, voluntariamente nos submetemos a um novo processo de congelamento ainda em experiência denominado 'O Despertar de Fênix',

Uma canção para Elise

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Pour Elise Entre vasos de flores, barro e panelas; em meio a cortinas sem veludo, carro e janelas... u ma história de amor. Simples assim. Sim, está certo: quase nunca não haverá música de fundo. Na maior parte do tempo, estaremos apenas mudos, a andar daqui para ali porque não há outro jeito: a vida segue, as contas chegam, a idade avança, a noite cai sobre todos os mortos. Mas se você ainda estiver vivo e disposto, haverá dias em que até planta e passarinho aparecem na sacada, crescem papoulas no limo da varanda, o sol grita lá fora e à tarde há o som de chuviscos no telhado. Um caso de amor. Simples, sem fim. Creio nele porque o vivo cotidianamente, quase nunca da melhor forma possível, com a angústia de todos os percalços, golpeado por seus altos e baixos, a esperar que um dia faça sol, que noutro dia chova. Um caso de amor nunca é fácil assim. Sim, há dias em que sem ela é impossível respirar, os instantes como que não passam e um deserto de ninguéns se f

Três poemas amargos de Max Casablanca

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O rei da rua Sabiá tem só 14 anos e cinco assassinatos. Franzino, ergue para o alto o braço  quase sem músculos, arco de violino, e diz, a arma em punho: "Tainha será o próximo – e Lucicleide,  aquela puta!" Ninguém o confronta em sua sanguinária loucura de menino monstro; nenhum o olha de frente,  os pivetes puro-medo de sua gangue de garotos. Sabiá é o rei da Rua do Urubu, do Cais do Ferro Velho, do Beco das Piranhas. Sabiá é o rei de porra nenhuma! Ontem à noite ele morreu assassinado com seis tiros no peito pele e ossos. Quem matou Sabiá foi Lucicleide,  à queima-roupa. Lucicleide tem só 16 anos e oito assassinatos. Lucicleide sabe escrever e ler, e faz poemas. Lucicleide é a rainha do Beco das Piranhas. Tic tac Os anos se foram. Perdi olhos e tempo. O coração, fraco. Sinto-o agora como quem ouve uma batida irregular de repenique, aquele tum tum.. tum... sopro de vento; o e

Josi Maués: dois poemas a fórceps

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Josi Maués Consegui arrancar na semana passada, a fórceps, dois poemas da querida amiga Josi Maués. Há três décadas, em "nossa juventude universitária" (kkkk), nossos primeiros poemas foram premiados num concurso estadual (se não me engano) e publicados em livros. Desde então, e por longos anos, sempre voltei à leitura daqueles oito ou dez textos de sua lavra, quando sentia a necessidade de retomar o contato com a forte dose lírica de uma escrita não automatizada. Josi me passava em seus poemas a sensação de uma verdade, legibilidade e audácia que encontrei em poucos poetas daquele nosso tempo, no Pará, a maioria plenos de hermetismos, "silenciosos" demais, às vezes quase incomunicáveis, excelentes para si mesmos. Ainda hoje é raro que encontre nas coisas que leio o envolvimento sedutor que me acolhe nos poemas de Josi; não... não é uma questão técnica: é a identificação com uma... forma de escrita – que me devolve à poesia e ao poema.  

O despertar de Fênix

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No dia 12 de abril, o meu novo romance, "O despertar de Fênix", será lançado mundialmente pela Amazon (em eBook), embora já esteja em pré-venda há três meses na loja virtual brasileira.  O livro é meu primeiro passeio pelo terreno da ficção científica e o escrevi sob a pressão dos prazos fixados pelo mercado editorial. É uma experiência boa e nova essa – a de ter prazos para escrever romances... kkkk >   "O despertar de Fênix" na Amazon CAPÍTULO 1 O despertar de Fênix No ano de 2030, um grupo de cientistas canadenses descobriu um composto gasoso capaz de deter a degeneração dos corpos vivos. Era uma forma de criogenia avançada com a qual se conseguia obter resultados surpreendentes no congelamento e reavivamento de rãs, répteis e, finalmente, pequenos mamíferos de laboratório. Aquele fora um dos momentos em que certamente a mão de Deus, farta dos fracassos de nossa espécie degenerada, moveu-se para ajudar na trajetória de sobreviv

Réquiem para um ser amado

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Ao José Vinas, in memoriam Hoje não direi que a vida basta. A vida é um enigma que passa. Dolor aos olhos, marcas de pegadas, A vida é só o passo de botinas gastas. Entre uma hora e outra em que vencemos A cada passo a vida que tivemos, Se a vida passa, não direi. E viveremos O pôr do sol das mortes que tememos. A vida é uma aurora que desgasta A luz dos dias todos, se morremos. Mas logo nasce a manhã... Não vês Que o Amor recria tudo o que desfez?

Discurso do poeta Pablo Neruda ao ganhar o Nobel de Literatura

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"Tenho expres­sado frequentemente que o melhor poeta é o homem que nos entrega o pão de cada dia: o padeiro mais próximo, que não pen­sa que é deus. Ele realiza a sua majestosa e humilde tarefa de amassar, colocar no forno, dourar e entregar o pão a cada dia, com uma obrigação comunitária. E se o poeta chegar a al­cançar esta consciência simples, poderá também a cons­ciência simples converter-se em parte de um colossal arte­sanato, de uma construção simples ou complicada, que é a construção da sociedade, a transformação das condições que rodeiam o homem, a entrega de uma mercadoria: pão, verdade, vinho, sonhos." (Pablo Neruda) Meu discurso será uma longa travessia, uma viagem minha por regiões longínquas e antípodas, não por isso menos seme­lhantes à paisagem e às solidões do norte. Falo do extremo sul do meu país. Nós, chilenos, nos afastamos tanto até tocar com nossos limites o Polo Sul, que parecemos a geografia da Suécia, que roça com a sua cabeça o norte nev