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Mostrando postagens de agosto, 2013
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Ters (Terra) Ters é um livro em que reuni uma razoável produção de poemas escritos ao longo de mais ou menos uma década. Dizem respeito a uma fase em que eu me dedicava mais a outros gêneros (romance, conto, teatro) e praticamente deixara de lado o verso, cada vez mais difícil num tempo de escassas sensibilidades. A segunda edição pode ser encontrada na Amazon.com, como e-book. Vão aqui três de seus poemas. Acesse o livro "Ters" – em Amazon.com Pensar Pensar não é reter na mente a imagem que se vê. É relacionar a dor e a lágrima, o ritmo e o riso, a caça e o coiote, irmãos da mesma fome; extrair da massa resultante, áspera e dura, a noção do instante e da brandura; construir com ela, nas dobras da costura, o Homem – e dar-lhe um nome. Espreita Deixo cair os teus olhos aos meus olhos cor de brasa, como os do extinto dragão dos pântanos de breu que espreita nossa casa. Perigo Eu estava parada, quieta
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Entrevista para o programa Iluminuras Ao longo de cinco dias, o programa Iluminuras, da TV Justiça, veiculou entrevista em que falo de minha atividade como editor e escritor. Recebi muitas mensagens, algumas emocionadas, acerca dos dois poemas dos quais fiz uma leitura, digamos, "em voz alta" durante o programa.  Nesta quarta-feira, o vídeo da entrevista foi finalmente veiculado no Youtube. Publico-o aqui, portanto, não por vaidade, mas por registro e memória.  Também serão apresentados neste espaço, a partir de setembro, os vídeos que estou produzindo, com poemas (meus e de outros autores) cuja leitura dramática estou preparando para apresentar em pequenas salas de espetáculo no ano de 2014.
De como os humanos são assustadores diante das feras A TV Justiça apresentou na sexta-feira passada (23.8) a entrevista que gravei para o programa "Iluminuras", especializado em literatura. Recebi dezenas de mensagens comentando em especial os dois textos que li em voz alta, com algo de recital e de dramaturgia . Um deles, "Felinos", faz parte de meu livro Humanidad – Casa de Demolição ,  de temática ecológica, que pode ser adquirido no site amazon.com.br .  Ei-lo: Felinos Olhe para os lados. Se for tigre ou onça-pintada, dê um salto sem tirar os olhos da fera. Deixe jamais que a sagacidade femi/lina perceba aquele medo medonho que se tem das gatas próximas do cio. * Fique ainda um pouco com o jeito cambiante de quem vê passarinho. * Se o animal fingir que abre a bocarra, simule que também tem dentes tão afiados quanto a língua de inimigos mortais humanos. * Acalme-se , embora verde esteja, ardendo em f
Fiz há mais de uma década um pequeno poema sem pontuação para a minha filha mais inquieta, hoje com 14 anos de idade. Publiquei esse texto singelo no livro que escrevi para Bela. Eu o encontrei perdido nos arquivos do computador que uso agora.  Ei-lo aqui. Nathália quando vieste de tão longe eu já não tinha espanto a casa era pequena as janelas sem cortinas aprisionaram o vento que te anunciava eu não ouvi batidas de tua mão na porta não disseste logo que virias tarde após terem chegado tantos outros pássaros foste o mais selvagem os teus olhos negros invadiram a noite desta minha alma inundaram os rios do meu corpo morno teu canto diferente embalou-me o sono e me levou os sonhos tua algazarra pequeno terremoto particular El Niño de minhas madrugadas
Outro texto de Uma canção para Elisa , feito em quase madrugada, entre taças de vinho, blues e papel de pão, daí que um tanto sombrio (antes de passar para o lado ensolarado da rua). Caligrafia  Ganhei uma caneta importada e passei a escrever cartas breves em papéis azulados, azul clarinho. Há ­muito não escrevia cartas. A vida enredou-nos no tumulto das contas a pagar, no tempo contado em moedas, na necessidade de prover os nossos com pão, agasalho, ternura. Cartas são um luxo dos que ainda vivem ao largo da máquina da pressa. São delicadezas de uns poucos que conseguem, apesar das ondas de calor e insetos, caos e ­trânsito, permanecer ­(quase) ­inteiramente ­humanos . O tempo, este senhor de barbas brancas, dentes alvos, transformou-se, à minha revelia, no meu mais feroz adversário, quiçá inimigo. Ele ri para mim a cada minuto em que caminho, juntamente contigo e todos os outros, a esse sem-fim,                      quase-recomeço,                         
De Uma canção para Elisa Reuni num livro os poemas que escrevi para Bela (Elisabete) em guardanapos de papel e folhas soltas, ao acaso, ao longo do tempo.  Ela os digitou e organizou a seu critério. Achei que o apanhado ficou interessante e, certo dia, decidi publicá-los em um pequeno volume, do qual agora extraí "belos" (assim mesmo, em minúsculas). belos não sou sem ti mesmo que sozinho a graça de estar contigo é um sol aberto o vento sobre trigos nos campos de trigo é só inteiro quando estou contigo manhã alguma é como tu a luz inteira de todas as estrelas num céu de fogo e gelo e se o tempo é Deus em mim enquanto espero ficas em mim em Deus – e deusas quero quer sejam elas mortais quando te afastas todo o mar de mim é tudo quanto basta se estou contigo se me olhas se me afagas os cabelos com dedos de anzol e azuis que iluminam a luz destes teus olhos belos postos em mim, sou tal como soul: um sol sozinho em branco e amarelo
Um poema de Ters (Terra) Reuni há dez anos, mais ou menos, num livro de título estranho, o que achava seriam meus últimos poemas. Mas não passei por um rehab e caí de novo, tempos depois, nesse vício. Acho que tenho também uma certa hipocondria de palavras.  Batalhas Todo um dia se passa. Recolho-me às muralhas. O inimigo avança com passos de corsa e onça. O aflito olhar para os lados só encontra o sol e seus raios. Nenhum aliado raia, nenhum surge em cavalgada. Fico à espera do saque, instalo as barricadas, reforço os portões, as nuvens vertem sopros, são mortalhas. Há duzentos e trinta homens contra mil da outra armada! Beijo as espadas, rezo aos fuzis, tarde exausta. Há um calor de estopim queimando na ponta errada, um vapor de sal, de gorduras vazando em todas as portas, um temor medroso e úmido que não se sustém e que chora. A morte não desola os ombros, o que destrói é a espera, esse aguardar ansioso e raro que mina as forças e as almas,
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Sempre tive uma especial fascinação por Van Gogh. Já escrevi contos sobre esse holandês extraordinário que realizou em pintura aquilo que durante muito tempo só achei possível com a música e o poema. E logo que me sinto atacado pelo mundo ou um tanto desalojado nas cidades enlouquecidas, penso em Van Gogh e em sua trajetória de indivíduo  exasperado pela repetição, isto é: contra a vida . O longo poema que dediquei a ele e a uma de minha filhas diz um pouco do que aprendi  com  e  sobre  Vincent Van Gogh. Ao fim, a canção emblemática e dolorosa de Don McLean, Starry Starry Night , que surpreendeu minha menina, que não a conhecia. Foi um prazer revisitá-la. De Vincent para Ana Vincent   foi um garoto recluso talvez um pouco mais soturno, só um pouco mais sozinho que outros meninos da mesma idade. Fervoroso – como o pai havia sido –, pensou: havia ali um chamado para Ele, no ar, na brisa, no céu uma ventura no Cosmo, um chamado para Deus?