Tigre
Eu sempre quis domesticar um tigre pequenino, um felino ainda bebê, com garras tais como se fossem espinhos de delicadas flores. A ele alimentaria com um leite entre morno e quente, um leite grave, até que suas listas vagamente amareladas ganhassem o rotundo negro que os faz (aos tigres) temíveis nas florestas, assim como a portentosa juba transfigura os leões, estes seres quase femininos, no terror insuperável das savanas. Ele cresceria até o limite de suas forças, até ficar um animal urgente, capaz de devorar um ser humano apenas com o susto das mandíbulas de aço, até que seus fios de prata, o ouro de suas vestes (o cobre apenas lhe reveste a máscara dos dentes), a beleza feita de intensidade e músculos, assemelhada à de certas mulheres e à de raríssimos cavalos, nos deixassem um só amontoado de dor e fibras pelo pátio, o corpo e a alma inteiros, mas feitos em pedaços.