Paisagem

O cenário ao pé desta montanha
é a paisagem de um conto de horror.
Está caída a vegetação,
um puma ao longe espreita
seja lá o que for
à luz pálida da Lua, enquanto a flor
no vaso a um canto desfalece.
Uma neblina áspera e fulva cobre o vale
onde não se ouve mais nenhuma prece.

Também em nossa alma às vezes
semelhante paisagem desce
com a fumaça de todo o seu pavor.
Esconde-se na sombra dessa hora baça,
na fraca luz de sua cortina enevoada,
em sua pele que se sabe nua,
certa amargura que jamais se esquece
(e ainda a mágoa, o desalento e o rancor).

Mas eis que de repente a aurora nasce.
Tudo o que era luto pronto se desfaz.
A casa de fantasmas era só uma choupana
deixada há tempos pelos ancestrais.
Aquele velho tronco decerto não é um puma,
nem mesmo a aparição da mais remota fera.

Do mesmo modo que a luz do Sol revela
a nós que nossos medos são banais,
a alma em pranto também se regenera
logo que tocada pelo amor e seus sinais,
assim que a esperança assume o leme
deste barco em fuga – e o leva ao cais.

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