O despertar de Fênix



No dia 12 de abril, o meu novo romance, "O despertar de Fênix", será lançado mundialmente pela Amazon (em eBook), embora já esteja em pré-venda há três meses na loja virtual brasileira. 

O livro é meu primeiro passeio pelo terreno da ficção científica e o escrevi sob a pressão dos prazos fixados pelo mercado editorial.

É uma experiência boa e nova essa – a de ter prazos para escrever romances... kkkk


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CAPÍTULO

1

O despertar de Fênix


No ano de 2030, um grupo de cientistas canadenses descobriu um composto gasoso capaz de deter a degeneração dos corpos vivos. Era uma forma de criogenia avançada com a qual se conseguia obter resultados surpreendentes no congelamento e reavivamento de rãs, répteis e, finalmente, pequenos mamíferos de laboratório.
Aquele fora um dos momentos em que certamente a mão de Deus, farta dos fracassos de nossa espécie degenerada, moveu-se para ajudar na trajetória de sobrevivência dos homens sobre a Terra.
Só muito mais tarde descobri o porquê.
Dez anos antes, uma estranha pandemia de desconhecida origem passou a dizimar a humanidade. A comunidade científica internacional – biólogos, médicos, geneticistas, especialistas de todo gênero – não conseguia saber ao certo a origem e a natureza daquele vírus de grande mutação que se espalhara por todo o Globo.
O mal não poupava ninguém, homens, mulheres, crianças; alcançava todas as raças e chegava a todos os continentes. Em cerca de 72 horas, às vezes bem menos, eliminava mais de 90% de suas vítimas.
Durante meses, nenhum dos infectados conseguiu sobreviver. A ação do vírus era rápida e letal. E não vale a pena descrever aqui o sofrimento daqueles a quem atingia.
A propagação da moléstia dava-se pelo ar e por outras vias de contato, em velocidade nunca vista. Impotente, o Homem pela primeira vez constatava sem saída o avanço das horas para o seu fim. E no ritmo em que ocorriam os contágios, o fim estava cada vez mais próximo.
Tal como em todas as grandes tragédias que vivenciamos, também nesta proliferavam os cadáveres nas casas e nas ruas. Os saques em todo lugar eram constantes. E muito rapidamente o caos se instalou.
Sempre foi assim: diante das ameaças, sacrificamos o próximo, roubamos e matamos para manter a integridade pessoal e buscamos desesperadamente... sobreviver. Basta perceber na contraluz do espelho a sombra de nossa própria morte para abrir mão do mínimo de controle e do que nos resta de lucidez e humanidade.

*

Perdemos a noção do tempo.
Era impossível trabalhar.
Logo se seguiram os linchamentos, os assassinatos, os suicídios. Os mortos se amontoavam por todo lugar, aos milhares, em degeneração.
Os que não eram vitimados por Fênix, nome com que fora batizado o vírus, morriam em razão da enormidade de outras doenças decorrentes da sede, da fome, da insalubridade que dominava o mundo.
O vírus tinha a prodigiosa capacidade de se modificar e se regenerar, especialmente quando atacado pelas defesas do corpo, e adotava a cada investida uma nova camuflagem.
Até ali parecia impossível detê-lo.
Devo dizer que fui um dos poucos que resistiu ao ataque de Fênix, talvez por haver herdado uma afortunada constituição genética, talvez por pura sorte, não sei... Eu tinha então 25 anos.
Pude assistir ao falecimento de quase tudo o que seus olhos um dia viram, caríssima amiga, o ser humano a encarar perplexo a sua derrocada.
Mas aquele não seria ainda o soar da última trombeta, o último momento.

*

Numa cidade turística e pesqueira do estado canadense de Quebec, Bas Saint-Laurent, um grupo de cientistas já há alguns anos estudava em segredo formas avançadas de congelamento de corpos vivos, em grandes laboratórios construídos às margens dos rios gelados da região.
Patrocinados por um magnata da indústria farmacêutica, agiram o tempo todo a partir de uma “visão mística” que acometera, em certa noite, Sarah, a filha mais nova do bilionário excêntrico.
O ano era o de 2028. A menina, de 16 anos, que sempre fora “saudável”, embora excessivamente tímida, mergulhara em um transe sereno de 24 horas no qual passou a narrar em detalhes o que deveria ser feito pelo pai para “salvar o mundo”.
O episódio nunca mais se repetiu. Saída do transe, a garota não se lembrou de nada, mas durante muitos dias o pai não lhe esqueceu o calmo semblante de anjo e os olhos profundos com que ela descrevera em minúcias o lugar e os ambientes em que deveriam ser iniciadas com urgência as pesquisas de criogenia e outras experiências que ela determinara em seu delírio.
Os amigos do bilionário consideraram loucura que ele tivesse dado ouvidos à filha, mas assim ele o fez, com absoluta convicção, colocando em risco sua esplêndida fortuna e mesmo a dos amigos a quem ele conseguiu convencer a patrocinar o projeto, ao qual muitos chamavam de “aquela insanidade”.
Em menos de um ano estavam concluídos os laboratórios da Base Fênix em Bas Saint-Laurent.
Foi lá que eu e mais 21 pessoas, homens e mulheres, voluntariamente nos submetemos a um processo de congelamento ainda em experiência, denominado Despertar de Fênix, alimentado por energia eólia, solar e, soubemos depois, molecular.
Ironicamente, Fênix iria ser combatido por... Fênix. A ideia era que após o congelamento pudéssemos ser despertados num futuro longínquo no qual tivéssemos condições de enfrentar aquele mal, ou mesmo num tempo em que a ameaça daquela abominação já estivesse neutralizada, por conta das mudanças geológicas, biológicas e ambientais sofridas pela Terra. Mas tudo era uma incógnita. Era impossível prever o que iria se passar. Sequer sabíamos se realmente iríamos despertar após décadas, talvez séculos, quiçá milênios, submetidos àquela forma experimental de congelamento.
E despertados por quem? De que modo?
Teríamos mesmo alguma chance? Era impossível dizer, mas valia a pena tentar.
De qualquer maneira, na situação em que nos encontrávamos naquele momento, havia pouca ou nenhuma possibilidade de sobrevivência. Àquela altura, mais de 75% da população do planeta havia sucumbido ao Fênix.
Os voluntários do projeto, eu inclusive, havíamos sido escolhidos por conta da inexplicável resistência que mantínhamos em relação ao vírus. Era, contudo, só uma questão de tempo até o mal encontrar a forma exata a assumir para nos eliminar.
Isso já havia acontecido a outros “resistentes”.
Eu sei que você foi uma das escolhidas para integrar a nossa aventura, querida amiga, mas decidiu não participar desta “experiência profana”. Preferiu enfrentar o vírus aí mesmo, no seu próprio tempo e a seu modo, embora, permita-me dizer, sem nenhuma chance.
Acontece que a nossa experiência deu certo.
A narrativa destes acontecimentos, espante-se, foi enviada a você do futuro.
Estou a exatos 5,8 milhões de anos após 2030.
Tudo o que vi e passo agora a contar, agradeço a Deus que você não tenha visto nunca.
Fênix foi em verdade uma bênção.

  

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