Depois

Depois do amor,
quando cessaram todos os perigos
e aquela flor feita de vespas
passou a zumbir no meu ouvido
o seu canto nada sedutor,
ouvi o teu pedido de perdão
cheio de citações de autores vivos.

Eu não quero mais saber das tuas aspas
a me devolver aquilo que não digo,
a me dizer tais frases que eu não lia.
Tiraste-me da casa em plena noite
e ainda por cima mataste-me o cão
com cujos dentes eu sempre te mordia.

O que falavas é uma fala de açoites:
“Eu não te amo, o que fazer? Perdoa-me
este momento irrefletido de paixão”.
E novamente em luto eu disse não
a esse amor que falece enquanto luto
com todas as forças que não tenho,
a desterrar a ilusão, embora doa em mim.

Mas não acreditas na linha frouxa e fraca
desse meu desenho de dúbios sinais,
na minha fala simplesmente rouca
de tanto mentir até a vontade perecer,
até que o orgulho cale a minha boca,
até que tudo que fere volte a me ferir.

É tão desolador estar assim, à merce
desse carinho roto que não tens por mim
nem por ninguém. Seria fácil desistir.
Então por que aceito quando voltas? O que
me faz abrir se vens bater à minha porta?

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