A graça é ainda mais bela que a beleza E que é a graça? É tudo. É, em primeiro lugar, a inteligência. Que vale a formosura plástica, quando é a companheira da estupidez? E a inteligência não dá apenas às mulheres uma beleza moral: dá-lhes também uma certa beleza física. (Olavo Bilac ) A beleza é o que é. Nada mais inútil que o tentar conceituá-la. O belo é sempre uma inapreensão, um eterno escape, uma viagem ao fundo profundo – e profuso – das impossibilidades humanas. Quanto mais a querem submeter, mais a beleza escapa das mãos que a julgavam submissa. A beleza e o belo apenas existem. Através dos séculos, homens em legiões vêm tentando codificar o belo. Os incautos contam-se aos milhares. Mas já há os que se convenceram definitivamente do sem-fim dessa tarefa, pois não existiu sábia alma ou especial sensibilidade que não tenha tentado conceituá-la – sempre insatisfatoriamente. O belo não cabe nos limites do homem, não se deixa reduzir a um esquema, a um sistema. É fluid...
Postagens mais visitadas deste blog
Um poema de Mário Faustino
Volto aqui a um belo poema de Mário Faustino, um autor que em sua juventude conviveu com alguns de meus mais diletos mestres do campo da literatura em Belém do Pará. Faustino é um autor ainda hoje, sob muitos aspectos, incomparável, um dos maiores em língua portuguesa, embora com uma produção pequena, enxuta, talvez em razão de seu perfeitismo , uma virtude que o levou a escrever muito pouco (falo de poemas, claro). Ler um poema de Faustino nos joga no centro de uma questão necessária a quem escreve: a da natureza da poesia hoje, que oscila quase sempre entre um neoparnasianismo injustificável, um simplismo "em favor da comunicação" e um visualismo neoconcreto desanimador. Os poemas de Faustino não são simples nem banais, porque produtos de uma "técnica literária" que em momento algum é bijuteria no poema . BALATETTA Por não ter esperança de beijá-lo Eu mesmo, ou de abraçá-lo, Ou contar-lhe do amor que me corrói O coração vassalo, Vai tu...
Ademir Braz – um poeta da Amazônia Ademir Braz possui a biografia de um intelectual de cidade do interior, inóspita, entrecortada de rios, décadas atrás perigosíssima. De lá, ele não se afasta para se fixar em outras plagas nem amarrado. Isso faz sentido para a semântica de sua criação, impregnada de uma certa melancolia, uma tal desesperança quase profunda, mas que paradoxalmente aspira a ser feliz; uma identidade índia que não se aparta da natureza, de seus rios, pássaros e mitos, da terra ainda espoliada. Ele é uma voz poética amazônida rara e autêntica. Conheci-o há 30 anos, numa viagem ao Sul do Pará. Mas meu contato se deu primeiramente com a poesia desse marabaense, algo por acaso. Numa certa manhã de calor asfixiante em Belém, ainda adolescente, vi Branca chegar da editora trazendo nos braços algumas sobras de papel e exemplares defeituosos de livros que estavam sendo impressos. Por curiosidade, fui abrindo os livros um a um: um certo O canto do acauã , sobre o can...
Comentários
Postar um comentário