Ouvindo My Funny Valentine



Com Lucia Micarelli ao violino, esta música me lembra, sempre que a ouço, uma de minhas filhas, para quem escrevi as duas "canções" que agora compartilho. 
É de uma melancolia dolente e bela.




A PRIMEIRA CANÇÃO DE NADJA

Para não seres eternamente só,
abraça o corpo inerte da boneca,
enquanto teu rosto doura-se
de opalinas, brilhos e amarelos
e tuas mãos (tão finas)
dedilham sedas e babados.

Para não seres eternamente pó,
enquanto a luz incide nas faces
ruborizadas, róseas com que agradas
o coração dos homens seriosos,
acende fogo no peito dos meninos,
abrasa em óleo o cansaço dos ungidos
no incêndio dos desejos.

A SEGUNDA CANÇÃO DE NADJA



Nadja, hoje ganhei um talismã.
Andei por horas o dorso da praia.
Chovia fino.
As pedras eram azuis e amarelas.
Onde eram vermelhas, escorregavam.
Pequeninos caranguejos
escondiam-se
em furos diminutos,
nas rochas encharcadas,
nas cavernas.

Súbito, olhei no leito transparente:
a água cristalina, uns peixes miúdos
– gametas espantados num veloz mergulho!

A pedra estava lá,
generosa,
em vermelho-fosco.

Trazia manchas róseas
nas costas lisas,
arabescos,
figuras abissais
no dorso lavado.

Estava lá,
em paz, molhada,
calada, serenamente
ouvindo uma canção
de náufragos.



Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Jolene: a pérola de Dolly Parton

Um poema de Mário Faustino