Dia de matar porcos



Não, eu não estou falando de políticos brasileiros, mas desta foto de Paulo Amorim que acabo de publicar, menção honrosa no concurso Awards of Humanity Photo Awards 2013, promovido pela Unesco e Associação de Fotógrafos da China, país onde aconteceu a cerimônia de premiação.
O título original da foto é Faire le Cochon, algo como "fazer (ou preparar) o porco". A imagem foi flagrada em Lozere, no sul da França, em 30 de dezembro de 2011. Diz a legenda original que essa é a maneira tradicional de se preparar o porco numa pequena aldeia entre montanhas no sul da França, tirando-se os pelos do animal com fogo, a água fervente a escorrer pelo fio da faca usada para o abate. 
Não deixa de ser impactante para corações fracos, o meu inclusive – mas a luz, ah, a luz de um Vermeer e o drama humano em sua tarefa cotidiana de existir estão ali, num exemplo admirável do belo trágico no fotojornalismo, a demonstrar o quanto ainda estamos próximos da barbárie.
Singular fotógrafo paraense, Paulo Amorim hoje vive na Europa, espalhando seu click em eventos de toda sorte, como freelancer da revista Veja e de outros periódicos pelo mundo. 
Esse cara extraordinário me acompanhou durante alguns anos em minhas atividades como repórter de O Liberal, um jornal que concentrava no fim dos anos 80 cerca de 92% dos leitores da Amazônia. 
Saíamos todos os dias à cata de reportagens que pudessem tirar as pessoas do chão, ele sempre com um às na manga, uma surpresa visual a cada lance.
Paulo Amorim está por trás das lentes que registraram minhas melhores imagens como Autor – coisa de 25 anos atrás, ainda jovens e magros (ele e eu) –, em fotos que ele fazia para ilustrar as matérias que costumavam sair na imprensa sobre meu trabalho como poeta, naqueles idos.
Reencontrei-o há alguns meses, em uma das minhas andanças pela internet. Soube que prossegue peregrinando os zoons de sua máquina inseparável pelos Países Baixos, Holanda e Alemanha refulgindo diante de seus olhos, a França flagrada numa curva.
E vi surpreso a sua evolução como artista e repórter. 
Ele sempre foi um cara de talento.

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E mais um outro link para novas imagens.





Sensibilidade, amplo domínio da luz e enquadramentos surpreendentes são características da fotografia de PA. 
Ele é um herdeiro do melhor fotojornalismo, aquele que une ao registro do fato uma certa “pegada estética” inconfundível. 
Difícil não ser tocado pela gradação sutil da sombra para a luz em certos trabalhos desse artista nos quais a imagem mais parece um poema. 
A Amazônia há 30 anos formou uma geração de fotógrafos extraordinários que hoje se espalham pelo mundo com uma visão equatorial e às vezes bárbara dos ambientes, dos cenários e das paisagens. O que há de mais sedutor na “observação” de mundo dessa geração plurivisual, da qual Amorim é um digno representante, é que ela não é só estética: ela é selvagem. 




Paulo Amorim nasceu em Belém do Pará em 1967. Iniciou sua atividade como fotógrafo em 1985, como freelancer. Trabalhou por 10 anos em O Liberal. Colaborou com a sucursal das revistas Veja e Agência France Press em Belém, desenvolvendo paralelamente projetos de documentação do povo e da região amazônica.
Vive na Europa há mais ou menos 14 anos, onde, como fotojornalista independente, faz a cobertura de acontecimentos internacionais. Morou em Lisboa e está agora em Amsterdã, creio. Colabora com Imago Press e Imago Sport (Suíça-Alemanha), Agência Estado (Brasil), revista Veja (Brasil), Agência EFE (Espanha), El Mundo e Don Balon (Espanha). 
É sem dúvida um dos grandes fotógrafos mundiais da região amazônica, um espaço nativo no qual ele reencontra mais que uma origem, uma inspiração, a reeducação do olhar para o essencial, para o drama em que se debatem, na luta pela sobrevivência, o homem e a floresta – quiçá o homem e o porco! 

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