Minhas garras azuis de adamantium
Venho produzindo três livros ao mesmo tempo (um romance, uma peça e um livro de poemas).
Faço isso por absoluta incompetência, apenas porque volta e meia travo em algum desses escritos e não saio do lugar. Daí que preciso passar a um outro "ato" de criação, diferente do anterior (a um outro texto, para ser mais preciso), para "destravar". Um deles é uma espécie de meio de campo nesse processo: a peça "Minhas garras azuis de adamantium", que estou escrevendo para uma atriz adorável, a Raiane, que trabalha no TSE. É um trabalho ainda em experimentação, mas apresento aqui uma pequena parte dele, com o início do Primeiro Ato, o diálogo entre A voz e Serena:
Personagens
A Voz
(É somente a voz, uma voz reproduzida a partir de gravações em MP3.
Dialoga com Serena e O Bardo ao longo de toda a peça)
Serena
(Personagem principal. Apresenta-se o tempo todo em roupa escura, futurista, de cor única (metálica), mas diferente em cada um dos atos do espetáculo.
No último figurino, tecidos translúcidos, leves, somam-se à roupa brilhante e enriquecem os movimentos da personagem, que ensaia, no momento final, um leve e contido bailado.)
O Bardo
(É uma espécie de Clown em dupla cor ou Arlequim, de rosto pintado em branco e amarelo.
A indumentária do personagem, sempre a mesma, apresenta variados tons de cinza e branco reluzentes. Usa um largo lenço cor de prata.)
O cenário
O cenário é formado por dois ambientes ligeiramente equidistantes, um totalmente em branco e o outro em diversos tons de amarelo. Um à direita; outro à esquerda.
Há seis cubos de diferentes tamanhos dispostos em pontos equilibrados e harmônicos do palco.
Três desses cubos devem ser confeccionados inteiramente em amarelo; os outros três, em diferentes tons de branco.
O tamanho de alguns deles deve permitir que as personagens neles se apoiem ou se sentem.
Os de cor amarela ocuparão o cenário branco; os de cor branca, o cenário amarelo.
Há ainda uma esfera pesada, brilhante, de cor vermelha, com cerca de 40 centímetros de diâmetro, que ocupará variados espaços do palco ao longo da peça.
Primeiro ato
A voz
É você? (Um tanto indiferente)
Serena
Às vezes, mas já sinto um certo cansaço de ser eu mesma. E de esperar. Você não sabe o que é sentir isso, você não espera.
A voz
Mas permaneço. E permanecer entre os humanos é como erguer o Sol sobre os ombros. Sabe quanto pesa o Sol?
Serena
Não, mas deve ser muito, muito mais leve, porém, que este coração.
A voz
O seu?
Serena
O de todos, desde que nascem e sentem a opressão, a primeira luz, o primeiro ruído na face do mundo.
(Um som de risos, de festa, choro de crianças)
A voz
Mas é um momento de celebração, de alegria...
Serena
O nascimento? É um engano... você sabe disso.
A voz
(Ri com ironia) Desculpe-me, não consegui me controlar.
Serena
Não tem de quê. Há sempre desprezo diante dos vidros da vida.
(Estourar de champanhes; caixas de presentes sendo abertas; mais crianças, maiores, em algazarra)
A voz
Não vê que é tudo um hino?
Serena
É um réquiem, só que um pouco mais tardio... e, digamos, mais longo.
A voz
A vida?... Não pode ser...
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