Dois poemas de Ters (Terra)
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Oceanos
O dia transbordou em oceanos.
Inundou-se a casa, encharcaram-se os cômodos.
É difícil estar assim exausto-áspero-sem-fim,
c’os pés enlameados de chão úmido.
Faz tempo a cidade decaiu ao insuportável,
o calor é sempre mais presente e ácido
e um chão de zinco disfarça-se de asfalto.
Deixem-nos ouvir o rádio, por favor!
Rebrilham irradiações fatais pela janela.
Um azul de óxido muda rapidamende de cor.
Ah, as enchentes, meu irmão, mumificadas
deixaram rios de esgotos na calçada.
Insetos voejam loucos e nada é lúcido
neste dia de calor intenso e flácido...
O que há com todo esse sol lá fora?!
Faz 42º à sombra, o ar demora...
Este é por sinal o nosso último momento.
No verão passado não andamos juntos.
Os pássaros outonais morreram tontos.
E até o amor transbordou em oceanos.
Design inteligente
Move-se em mim
o desejo de ser todo o Universo
e de ser a um só tempo
mínimo como grão de trigo.
Desejo de alcançar num mesmo átimo
Marte e o Infinito
e descer ao mar num oceano límpido,
irmão das labaredas.
Desde sempre a morte me pareceu a mim
uma falha de projeto;
a sede e a velhice, um caos terreno.
Prefiro imaginar viagens cósmicas,
Deus, a permanência do Espírito.
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