Se o mundo fosse acabar, me diz o que você faria... se só te restasse este dia


A canção apocalíptica de Paulinho Moska traz uma provocação:

"O que você faria se só te restasse este dia?
Se o mundo fosse acabar, me diz o que você faria... se só te restasse um dia."



Se não mudarmos o rumo da história humana no planeta, não nos restará mesmo muito mais tempo. 
A pergunta de Moska deixa então de ser uma jogada poética – e passa ao estado de uma verdadeiramente incômoda interrogação existencial.

"Se o mundo fosse acabar, me diz o que você faria
se só te restasse um dia..."

Tenho usado essa música como abertura de algumas de minhas palestras mal chamadas de "motivacionais". Na tela do projetor, uma sucessão de imagens (dramáticas, sim) do que temos sido de insanidade e ignorância nos últimos tempos.
Quando a música cessa, fica na tela a pergunta:

"O que você faria?"

Quem se aventura a responder apresenta muitas vezes depoimentos cuja natureza é doloroso aqui reproduzir (e eu não o faria).
Percebemos então que a percepção da crise (não a material, econômica, mas a existencial, profunda) vem sendo sufocada pela montanha de pequenas coisas do dia a dia, e só aparece nos extremos, nos lugares onde nunca estamos ou dos quais esquecemos.
E vemo-nos face a face com nossos limites emocionais, com tudo o que nos desestabiliza, o que nos envolve na esfera dos mais profundos afetos, as coisas que não podemos consertar...
E como dar conta do que não se pôde aguentar a vida toda, se só nos restasse este dia?
Eu, que sou péssimo para dar conselhos, daria um a você neste momento em que me lê.
É um conselho gasto, senil, mais velho do que andar pra frente: aja na vida como se só lhe restasse realmente este dia, quiçá só o minuto seguinte.
Faça o melhor agora, divirta-se neste instante, ainda que seja lavando pratos, varrendo a casa, batendo carimbos...
O melhor momento é este em que se respira, porque poderá não haver outro no intervalo entre o espanto e a agonia.
Se colocarmos o ouro de nós inclusive nos lugares e nas coisas em que parece não haver nenhum brilho (e isto vale também para os relacionamentos), talvez deixemos de errar tanto – e tão profundamente.



De minha parte, tenho a convicção do que faria se só me restasse este dia: tomaria nos braços a filha de minha alma (de quem tão cedo me deixei distante) e diria a ela que ela está em todos os cantos de minha casa, nas paisagens que vejo, nas coisas que ouço, nas dobras de minha vida, nos meus sonhos, dia a dia, há tanto tempo que é como se o tempo não existisse "no tempo que já se perdia".
E com ela ficaria.

Comentários

  1. Ah!!! As palavras nelas o código da vida...sempre as palavras a nos traduzir no simples revestimento da vida...Então, como tornar a palavra eterna como fazê lá sabedoria ao ponto de que ela seja sempre o espírito e a verdade do que é viver... a dor em seu magistério nos ensina que não basta saber é preciso sentir para que se afirme a vida com a sua beleza e onde há beleza aparece o Amor que conhece o que é verdade. O que nos transforma no fogo da vida é o que sentimos...aliás, o auto arrependimento é uma pena cruel... Não basta saber o que é a vida e o que é o amor...nas basta discernir o certo do errado..Também não basta distinguir o falso do verdadeiro...É fundamental sentir na alma, no Espírito e no coração o valioso e supremo dom da vida e ter gratidão na alegria e na tristeza sempre e eternamente nesse sagrado ofício de viver

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