O oposto da inércia
Há quanto tempo isso está assim?
Um dos elementos formadores da palavra administração traz a ideia de movimento.
Administrar tem a ver com agir, o oposto da inércia, portanto.
É isso, simplesmente: fazer com que algo, por impulso ou por atrito, vá pra frente.
Mas como movimentar-se pode ser algo que se faça para quaisquer dos lados (ou mesmo para baixo ou para cima), há quem siga... para trás.
Há muito tempo cogito que um dos grandes problemas do país, talvez um dos mais profundos, porque disseminando-se e expandindo-se, em metástase, é a falta de gestão, sobretudo a gestão pública.
Indicadores
Algumas coisas mínimas, porém, precisam ser feitas, se se pretende gerir algo.
Uma delas é ter indicadores para medir o que se faz, ter os números de nosso desempenho.
Um dos sinais de que gerimos predominantemente mal está no fato de que os nossos administradores (sobretudo os gestores públicos) não medem nada.
Sem saber os números do que se faz, os percentuais de erros e acertos, o volume das práticas, não é possível sequer perceber se estamos errando sempre.
Práticas
Creio que há, além disso, níveis de administração, cujas práticas essenciais precisam ser levadas a efeito, necessariamente.
Uma dessas práticas é a manutenção.
Se alguma coisa falhou, coloque-se-a em regular funcionamento.
Se algo se quebrou, conserte-o.
É básico, elementar, mas não é feito em um grande número de vezes. (E não é algo que dependa exclusivamente de dinheiro.)
O primeiro passo nesse sentido é evitar a quebra ou o desgaste desnecessário.
Um altíssimo percentual de coisas que se estragam, estragam-se como resultado do mau uso (não temos o hábito sequer de ler os manuais dos equipamentos antes de colocá-los em funcionamento).
Por isso, é importante saber como montar, operar, manusear os instrumentos.
Imediatamente
Outro passo é seguir um princípio: se algo ficou avariado, conserte-o imediatamente, ou o mais rapidamente possível.
(A direção do hospital Sarah Kubitscheck, referência mundial em medicina pública, tem como regra consertar em 24 horas qualquer coisa que venha a se quebrar no ambiente hospitalar.)
Mas é dominante a cultura da inércia entre certos gestores (o que parece um paradoxo).
Daí que as coisas ficam estragadas por dias, meses, anos, décadas.
Atitudes
Certa vez, em visita a uma escola pública de Natal/RN, vi que ao lado da quadra de esporte uma torneira pingava abundantemente.
Os alunos iam e vinha e pareciam não notar (já acostumados ao pouco-caso).
Perguntei: Há quanto tempo isso está assim?
Disseram: Ah, faz algum tempo.
Na verdade, a torneira pingava há mais de um mês (isso numa cidade afetada pela escassez de água potável!)
O diretor se aproximou e questionei:
O que é isso?
A torneira pingando, ele disse.
(????)
– E por que não a consertam?
– Já mandamos um e-mail para a Secretaria (de Educação).
O diretor acreditava piamente ter cumprido o seu papel.
Provavelmente sequer repetiu o e-mail diante da falta de providências.
Não ocorreu a ele tomar uma outra qualquer atitude que fosse eficaz.
Um dos meninos falou:
– Meu pai conserta isso num minuto.
Eu sugeri ao diretor, sem esconder a irritação:
– Peça esse favor ao pai do menino, pelamordedeus! Tenho certeza de que ele não irá se negar. A escola é também do filho dele.
Ele me olhou desorientado, perplexo.
O tipo de gestor que não serve nem pra ser síndico.
Mas há em todo lugar uma legião de administradores iguais a ele, incapazes de agir diante da ineficiência do sistema.
A atitude solucionadora, contudo, não precisava partir dele, somente dele.
Qualquer um que se importe
O gesto positivo poderia ser de qualquer um ali, se alguém de fato se importasse com alguma coisa.
É que estamos todos, de uma maneira ou de outra, culturalmente intoxicados pelo vírus mortal do não fazer, que nos paralisa até que tudo fique sem conserto.
Comentários
Postar um comentário