A noite dos casacos vermelhos em 3ª edição



Na próxima quinta-feira (24 de outubro), no hall do complexo de auditórios do Tribunal Superior Eleitoral (em Brasília), será lançada a terceira edição de A noite dos casacos vermelhos, um romance que até agora me tem dado grandes frutos. 
Haverá leitura pública de trechos do livro.
Em novembro, se tudo correr bem, sairá a edição em inglês, voltada principalmente para o Natal americano, traduzida por Talita Sales e Aaron Stanley, um dos articulistas do Financial Times.
Já recebi alguns dos capítulos em língua ianque. 
O livro continua fazendo sucesso na Espanha e nos EUA, em espanhol. Pelo menos dois comentários, um do Brasil e outro dos Estados Unidos, orgulha-me reproduzir: "Me encantó, quiero más libros así. Totalmente recomendable!!! Intriga hasta la última página. Espero continúen, ya que lo leí en una hora" (Gabriela Macagno, 26.8.2013); "Parabéns ao autor pela magnífica escrita. Apesar de a temática do livro não ser das minhas preferidas, foi o talento e a prosa quase poética do autor que me incentivaram a ir até o final. O livro independente mais bem escrito que já li, sem a menor sombra de dúvidas" (Stella, 7.9.2013).
Desta vez decidi acrescentar à edição um comentário de abertura, que aqui apresento.







Real à luz do dia



O sucesso alcançado pelo romance A noite dos casacos vermelhos, sobretudo neste ano de 2013, foi para mim uma grata surpresa. A primeira edição, já de há alguns anos, esgotou-se rapidamente, antes mesmo que fosse levada às livrarias, como resultado da divulgação “boca a boca” feita por alguns dos que adquiriram o livro em seu lançamento.
A minha intenção ao lançá-lo, contudo, era apenas a de testar o efeito do enredo, da trama, no espírito do leitor. Guardava sérias dúvidas: a “engrenagem” um tanto surreal da história soaria crível como eu pretendia que acontecesse, a ponto de as pessoas levarem em conta a possibilidade de os fatos narrados terem acontecido?
Foi considerável, quanto a esse aspecto, o número de pessoas – muitas das quais íntimas e amigas – que me perguntaram se “aquela casa” era real, se aquele demônio (Edwil) de fato existiu.
A noite dos casacos vermelhos resulta de um sonho, quase de uma alucinação.
Há cerca de oito anos, pela primeira vez, ao acordar, lembrei-me de tudo quanto havia sonhado em noite anterior. Para meu espanto, era uma história inteira, uma trama angustiante e improvável, mas que ainda assim, à luz do dia, parecia real.
As personagens apareciam difusas, meros esboços, mas os ambientes e as emoções ainda estavam intensos. Faltavam os detalhes: um certo cômodo, a textura dum vaso, um som indistinto, uma determinada cor...
Já há algum tempo eu vinha realizando experiências com as técnicas narrativas dos best-sellers. Usando de uma metodologia aprendida no curso de Semiologia (UFPA), passei a exercitar a construção da trama em múltiplos níveis de tensão: da arquitetura do universo fictício ao ritmo da narrativa.
O ritmo – sobretudo esse, na difícil articulação entre as camadas de espaço e tempo – e as correlações simbólicas eram para mim um grande desafio. A psicologia das personagens teria de ser capturada na superfície dos contextos da narração, a partir dos ambientes e das reações humanas caso a caso, no corpo da história, muito mais sugerida que explicitada, para não dispersar o argumento.
Foi a difícil escolha entre entregar os anéis ou perder os dedos.
A narrativa precisava ser veloz, sem ser apressada, mas para isso a história teria de ser curta, a fim de que pudesse ser lida em pouco mais de duas horas, no máximo.
A tensão seria levada ao limite na finalização de todo capítulo. No fundo, um jogo de espelhos, com seus sustos e seus desfoques (que nada mais são do que falsas representações de uma realidade exterior, viva porém em sua reflexividade). É só olhar para cima que a ilusão da aparência se desfaz.
Creio, pelos depoimentos que obtive, haver conseguido em grande parte esse meu intento. Eu mesmo, ainda hoje, relendo estas páginas, encontro, como quem puxa o fio da meada, correlações simbólicas das quais não me dei conta; ainda rio comigo mesmo das passagens lúdicas com que busquei macular (nem tanto) o solo sagrado da crítica cultural e da teoria da arte, a poesia misturada ao “sangue ruim” do suspense, quase uma heresia (as palavras não são minhas.)
Nesta terceira edição, acrescentei detalhes aos últimos capítulos e aperfeiçoei (assim espero) alguns dos temas quanto à unidade – sobretudo para refinar o ritmo, esse difícil fundamento que aos gênios é uma tarefa natural, mas que para mim é produto de uma missão um tanto impossível.
Sou essencialmente um escritor de poemas. Nestes, minhas pretensões são as de construir algo verdadeiramente literário – se não espontâneo, pelo menos decorrente de uma vocação que em mim espero ainda exista.
O romance me é um novo engenho, em que me despedaço, apesar de tudo agradável, porque me divirto com seu pleno potencial e suas virtualidades infinitas; uma arte nobilíssima cujo modo de construção, muito mais por saudável leviandade, agora me permito.

Rey Vinas

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