Ters (Terra)


Ters é um livro em que reuni uma razoável produção de poemas escritos ao longo de mais ou menos uma década. Dizem respeito a uma fase em que eu me dedicava mais a outros gêneros (romance, conto, teatro) e praticamente deixara de lado o verso, cada vez mais difícil num tempo de escassas sensibilidades.
A segunda edição pode ser encontrada na Amazon.com, como e-book. Vão aqui três de seus poemas.






Pensar


Pensar não é reter
na mente
a imagem que se vê.
É relacionar a dor e a lágrima,
o ritmo e o riso,
a caça e o coiote,
irmãos da mesma fome;
extrair da massa resultante,
áspera e dura,
a noção do instante
e da brandura;
construir com ela,
nas dobras da costura,
o Homem
– e dar-lhe um nome.



Espreita


Deixo cair os teus olhos aos meus
olhos cor de brasa,
como os do extinto dragão dos pântanos de breu
que espreita nossa casa.



Perigo


Eu estava parada, quieta
no meu canto
quando ele chegou
lento, sibilino, sorrateiro,
e me beijou
como nunca mais beijaste.

Não haveria tornado,
tufão que o soltasse
daquele beijo de
endemoninhado,
e tudo ficou no ar,
parado, como se nunca
começasse.

Desde aquele dia
tremo só de olhar
para esse homem
que me deixa atônita
e aos pedaços.

Eu, esposa fria,
coro só de vê-lo
subir a escada,
cheia de embaraço.

Faz dois dias
que ele não me cega.
Ando tensa no escritório,
o coração de aço.

O que há comigo?
Espero com ânsia
de menina e moça
que me tome nos braços,
que me tome, meu amigo,
e leve àqueles ares
de frauta e de bonina,
a lugar onde me sinta
outra antes que Marta,
ninfa antes que santa,
de onde o tédio fuja

à face do perigo.

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