Razão e sensibilidade
A escrita precisa então de períodos mais curtos.
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As diferenças de estilo não se prendem apenas ao tempo em que ocorre a escrita, mas ao modo como se encara em qualquer momento a arte e a comunicação.
Lá por 1903, temos na literatura brasileira este exemplo, belo a sua maneira, de “Luzia Homem”, de Domingos Olímpio:
“Bateram-se os vastos currais, de grossos esteios de aroeira, fincados a pique, rijos como barras de ferro, currais seculares, obra ciclópica, da qual restava apenas, como lúgubre vestígio, o moirão ligeiramente inclinado, adelgaçado no centro, polido pelo contínuo atrito das cordas de laçar as vítimas que a ele eram arrastadas aos empuxões, bufando, resistindo, ou entregando, resignadas e mansas, o pescoço à faca do magarefe”.
E não resisto, porém, à comparação desta frase (é uma frase só) com as primeiras linhas da abertura de “Razão e Sensibilidade”, da inglesa Jane Austen, de 1811 (quase um século antes!):
“A família Dashowood há muito se estabelecera em Sussex. Sua propriedade era grande e a residência ficava em Norland Park, no centro de suas terras, onde, por muitas gerações, viveram de maneira tão respeitosa que conquistaram uma boa reputação entre os conhecidos da região. O último proprietário dessa propriedade era um homem solteiro, que viveu até uma idade muito avançada e que, durante grande parte de sua vida, teve a irmã como fiel companheira e governanta”.
A escrita atual se inclina cada vez mais a essa “razão e sensibilidade”.
A inversão de elementos na frase, tão cara a tempos pretéritos (em que soava como qualidade de estilo), dá lugar à predominância da ordem direta, principalmente no jornalismo.
Diz a influencer Dad Squarisi em seu Blog:
Diz a influencer Dad Squarisi em seu Blog:
“Na frente, o mais significativo. Atrás, o secundário. Sujeito + verbo + complemento é a fórmula.
Bolsonaro elogiou o filho na entrevista de ontem no Palácio do Planalto.
A ideia substantiva — Bolsonaro elogiou o filho — abre o enunciado. É ela que ficará retida na memória. O complemento tem importância secundária. Se algum pormenor se perder, não comprometerá o recado.
Compare:
A ideia substantiva — Bolsonaro elogiou o filho — abre o enunciado. É ela que ficará retida na memória. O complemento tem importância secundária. Se algum pormenor se perder, não comprometerá o recado.
Compare:
Na entrevista de ontem no Palácio do Planalto, Bolsonaro elogiou o filho.
A informação mais importante perdeu-se na rabeira da frase. Azar do leitor”.
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As diferenças de estilo não se prendem apenas ao tempo em que ocorre a escrita, mas ao modo como se encara em qualquer momento a arte e a comunicação.
Lá por 1903, temos na literatura brasileira este exemplo, belo a sua maneira, de “Luzia Homem”, de Domingos Olímpio:
“Bateram-se os vastos currais, de grossos esteios de aroeira, fincados a pique, rijos como barras de ferro, currais seculares, obra ciclópica, da qual restava apenas, como lúgubre vestígio, o moirão ligeiramente inclinado, adelgaçado no centro, polido pelo contínuo atrito das cordas de laçar as vítimas que a ele eram arrastadas aos empuxões, bufando, resistindo, ou entregando, resignadas e mansas, o pescoço à faca do magarefe”.
E não resisto, porém, à comparação desta frase (é uma frase só) com as primeiras linhas da abertura de “Razão e Sensibilidade”, da inglesa Jane Austen, de 1811 (quase um século antes!):
“A família Dashowood há muito se estabelecera em Sussex. Sua propriedade era grande e a residência ficava em Norland Park, no centro de suas terras, onde, por muitas gerações, viveram de maneira tão respeitosa que conquistaram uma boa reputação entre os conhecidos da região. O último proprietário dessa propriedade era um homem solteiro, que viveu até uma idade muito avançada e que, durante grande parte de sua vida, teve a irmã como fiel companheira e governanta”.
A escrita atual se inclina cada vez mais a essa “razão e sensibilidade”.
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