Sobre a Terra
Lua sangrenta
Marcilla me disse que o amor morre. E Nacillo falou que ela estava certa. Ora, há sentimentos assim que começam como um rastro de fogo na campina. É tão intenso o que sai do chão em labaredas que nos sufoca se permanecemos sem sair do lugar, se o coração fica parado e os gestos não se iniciam no sentido da acolhida.
Depois é como se um vento de ressaca nos assaltasse de repente. Sobre o cálido das cinzas que vão aos poucos se formando em toda a extensão do prado, uma brisa perpassa devagar o caminho até a casa onde ficamos, que nos acolheu depois de tantos anos, que deixou ficar sobre nós o seu teto de palha e folha.
Os dias hoje são sombrios e a casa respira o pó dos que se foram, como um corpo que inspira de cansaço e dá sinais de que desiste.
Tanto eu queria... não que fosse como antes, porque o que se foi é um ido inalterável até as esferas que já nem sabemos. Queria, isto sim, o riso despertado pelo agora em que sobejam as coisas que sofremos; o carinho de aqui mesmo, quando estamos mais ou menos juntos; o olhar contigo a Lua sangrenta que só ressurgirá num tempo em que (talvez) não mais estejamos sobre a Terra. Tanto eu queria...
O desalento é saber que já não sei se estás quando estou perto, ouvir que falas a outros os sons de tua voz que já não conheço.
O dissabor é que a beleza se foi, o encanto se desfez em catedrais de vento e a admiração se tornou pouco mais que um susto.
Macilla diz que o amor morre. E eu penso que ele só desaparece por enquanto, como uma estrela que já fez o seu caminho nos cósmicos espaços e está agora além de nossa emoção, fora de nossa vista... a exemplo de tantos outros que um dia amamos e também se foram.
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