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Mostrando postagens de novembro, 2019

Mitos

Estive a pensar em como foram criadas essas figuras híbridas dos mitos, seres que são metade anjos e metade bichos; um pedaço de mulher com mãos de tigre, as garras dum felino num corpo que tem peitos, e com uma voz que é feita só de gritos ou urros... ou bramidos. Fico a pensar que seus olhos de cristal (ou puro vidro) talvez não sejam assim tão abissais como faz crer seu rosto repleto de sentidos que desconhecemos. Um dia chegará a hora de enfrentar as asas que tememos nessas coisas que voam sobre nós nas noites de sereno. Ao ouvir o som de seu galope, saberemos. Mas o quê? O que faremos ao nos atingir o impulso dessa harpia furiosa, a letalidade de sua língua eivada de veneno?

Depois

Depois do amor, quando cessaram todos os perigos e aquela flor feita de vespas passou a zumbir no meu ouvido o seu canto nada sedutor, ouvi o teu pedido de perdão cheio de citações de autores vivos. Eu não quero mais saber das tuas aspas a me devolver aquilo que não digo, a me dizer tais frases que eu não lia. Tiraste-me da casa em plena noite e ainda por cima mataste-me o cão com cujos dentes eu sempre te mordia. O que falavas é uma fala de açoites: “Eu não te amo, o que fazer? Perdoa-me este momento irrefletido de paixão”. E novamente em luto eu disse não a esse amor que falece enquanto luto com todas as forças que não tenho, a desterrar a ilusão, embora doa em mim. Mas não acreditas na linha frouxa e fraca desse meu desenho de dúbios sinais, na minha fala simplesmente rouca de tanto mentir até a vontade perecer, até que o orgulho cale a minha boca, até que tudo que fere volte a me ferir. É tão desolador estar assim, à merce desse carinho roto que não tens por mim nem por ninguém. Se...